No dia em que li a entrevista metralhadora de Nana Caymmi sobre o lançamento do seu novo disco songbook do Tito Madi fui ao Teatro Mapati ver a peça “Vinicius” da Companhia Infiltrados Teatro de Ocupação. Dia angustiante pela situação politica do Brasil.
Dia de grito preso na garganta. Dia de lembranças da minha adolescência em Brasilia. Assisti a um show de Vinicius de Moraes acompanhado de Tom Jobim, Toquinho e Maria Creusa no Minas Brasilia Tenis Clube. Tinha eu 16 anos de idade e já acompanhava a cena musical da Capital pela coluna do jornalista Irlan Rocha Lima do Correio Brasiliense.
Ultimamente tem me abatido uma nostalgia midiática. Sou colecionador de discos e estou sofrendo com a excassez do meu objeto de desejo. Para evitar arrependimentos futuros estou colecionando os CDs e Songbooks de partituras dos mestres da música brasileira produzidos pelo Almir Chediak. Estou falando de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo, João Bosco, Marcos Valle, João Donato, Djavan, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Braguinha, Noel Rosa, Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Nas ultimas audições descobri que o Songbook do Vinicius de Moraes, composto de 3 cds, é especialmente maravilhoso.
Em casa eu e meu companheiro Diego Azambuja estamos ouvindo muito todos estes músicos e como ele esta trabalhando na montagem de um musical me fez ir ver a peça dos atores de Brasília sobre o poeta. De minha parte já havia ouvido falar da peça quando da sua primeira temporada em 2018. No entanto, não me interessei pelo chamamento etílico. O público podia levar seu whisk. Eu não bebo mais e tive preconceito. Mas felizmente deu para remediar a minha ignorância e descaso pois encontrei o que me faltava naquela noite.
Me faltava o transbordamento de sentimentos amorosos. Me faltava o excesso de poesia. Me faltava ouvir a beleza das vozes do público cantando a elegância das canções da bossa nova. Me faltava a informalidade informada do diplomata demitido. Me faltava a repetição de palavras como: amor, paixão, casamento, separação, alegria e tristeza. Me faltava cantar e ouvir todas essas coisas que eu amo.
Realmente parece que começamos a viver num tempo em que é difícil falar sobre o que realmente importa. Nós temos que recolher os fragmentos aqui e acolá, no site, no face, no youtube e na peça do Teatro Mapati. Mas os Infiltrados conseguiram. Exatamente como postou Fernanda Montenegro ” Talvez o teatro esteja em suas catacumbas, mas é delas que está vindo uma resistência cênica extraordinária”.
Eu vivi esta experiência de resistência assistindo a peça “Vinicius”.Eu vivi a imersão cênica das festas onde se dançava junto sambas e se comia, bebia e fumava ao som envolvente da música brasileira. Eu pude reconhecer no texto da Companhia brasiliense os depoimentos de Maria Betânia, Gilda Matoso e de todos os camaradas poetas de Vinicius de Moraes. Bebi chá, cantei, dancei e gostei muito de estar no teatro. Mas o mais emocionante mesmo foi ver a garra da trupe de artistas. Eu fiquei muito orgulhoso de ver o trabalho do Abaetê Queiroz, da Juliana Drummond e do Edu Moraes. Estamos em Brasilia, a música é muito importante e muito forte para nós. Ela é necessária. A Companhia dos Infiltrados Teatro de Ocupação sabe disso e brindou Brasília com um espetáculo sensível envolvente, que nos transporta para um Brasil autêntico, belo e poético. Viva Vinicius de Moraes e salve o teatro de Brasília!
Ficha Técnica
Concepção, Direção e Roteiro: Abaetê Queiroz Assistente de Direção: Juliana Drummond Direção Musical: Edu Moraes Identidade Visual: Ana Carolina Lopes Fotografia: Lívia Bennet, Erick Moreno, Alysson José da Silva Produção: Guinada Produções – Nathalie Amaral Elenco: Abaetê Queiroz, Amanda Coelho, Bárbara Franco, Clovis Leoncio, Cris Mendes, Eric Naves, Flávia Limoeiro, Juliana Drummond, Kayla Valladares, Lara Patty, Maíra Kirosvsky , Nina Sá e Tathyana Lopes. Músicos convidados: Edu Moraes e Wander Britto